“O amor é um fenómeno sagrado, o amor não é profano. Todo o amor digno desse nome é sagrado. E quando você entra num estado de amor, entra no mundo da pureza, da inocência. Quando você ama entra no templo do divino. Não estou aqui para lhe dar mais tristezas- você já é demasiado miserável. Eu estou aqui para o despertar para a felicidade, que é um direito seu de nascença, que está de forma disponível natural para si. Mas você esqueceu-se como abordá-la, e insiste em enveredar pelos caminhos errados”. OSHO
Percorria a pé os serranos caminhos escarpelados de tojo e neve.
Carregava às costas uma mochila com o necessário para alguns dias.
Ao longe uma pequena casa de granito, uma luz ténue ombreava-se na janela como quem chama, como quem espera, como quem invoca a poesia num entardecer de um dia.
Aproximou-se num último fôlego, o ar era agressivamente frio. Podia falar desse momento quando chegou à aldeia, mas não se sentiu capaz de o fazer. Bateu à porta, soaram duas pancadas tímidas.
Do outro lado nada ouviu, nenhum ruído, nenhuma voz. Rodopiou a maçaneta, a porta abriu-se silenciosamente. Nada do que estava lá dentro lhe era familiar. Uma pequena lareira aquecia o compartimento. O calor e o conforto convidaram-no a pousar o corpo dormente no sofá.
As pálpebras pesadas e fundas caíram num sono profundo. Não sabe ao certo quantas horas ficou ali desmaiado pelo cansaço. Surpreendentemente apercebeu-se que tinha uma manta sobre o peito e uma caneca tosca fumegava na pequena mesa de madeira pincelada de tinta. Afagou o seu cabelo farto e encaracolado, passou os dedos pela meiguice dos olhos e prometeu a si mesmo que jamais iria viver outras vidas.
Estaria somente comprometido com a geografia daquele lugar e com o tempo, esse abismo onde se sentiu muitas vezes perdido.
É imperativo pousar a cabeça.
A espada, nem sempre nos salva da morte.
É dentro do silêncio que travamos a melhor luta. A nossa.
Há lugares que nos fazem sentir mudos.
Cai neve, tudo é branco e não se distingue os fossos.
Absorto no caderno, as palavras desciam compulsivamente.
Por detrás de cada vocábulo havia um rosto devolvido à terra.
As suas mãos perscrutavam como valsas lentas as sementes, tão longe de serem árvores.
O dia tinha acabado de nascer.
O Vidro da janela brilhava como um raio aturdido.
A janela é um lugar redutor.
Não precisava de olhar através dela para fazer o retrato da árvore.
Precisava apenas de visualizá-la no lugar onde as árvores não são esquecidas.
Sílvia Mota Lopes