João Manuel Ribeiro
O País dos avós (Maria de Lurdes Soares & Carla Nazareth, Paulinas, 2017)
Depois de «O país do mel», «O país dos pés», «O país da roupa», «O país das chaves», da coleção «países imaginados», este O país dos avós apresenta-nos um território afetivo que existe há séculos, não tem poiso fixo, é fruto de memórias, território que os avós não habitam, mas onde são recebidos todos os dias. Sem eles «a família perderia a sua última geração e deixaria de ter história, memória e coração.» Os avós adoram que o tempo não tenha pressa, riem pela alegria contagiosa da magia, vivem em espanto, trazem consigo saberes e têm resposta para todas as perguntas e porquês, ensinam (num nunca acabar de sabedoria), cantam, contam e adormecem. A conclusão da narrativa parece oferecer uma síntese deste país enigmático: «Com bagagem, mas sem peso, os avós regressam, com alegria, à Família. E dela viajam, sem intenção nem aviso, para o País dos Avós, sempre. A sua esperança são os sonhos e o Seu amor são os netos.» A ideia de um território / país em que os avós fossem reis e senhores perde-se ao longo da narrativa pela introdução de excessivos elementos míticos (fadas, duendes, gnomos, ninfas, salamandras) que dificultam a leitura e a compreensão, e reclamam uma leitura demorada e atenta e, porventura, um bom mediador. Ainda assim, ou talvez por causa disso, fica a sensação de que este país é mais uma ponte entre duas margens: o universo infantil e o saber de experiências feito dos avós.