João Manuel Ribeiro
O meu avô (Catarina Sobral, Orfeu Mini, 2014)
Este outro avô, de Catarina Sobral, não é pasteleiro, mas foi relojoeiro. Talvez por isso a narrativa comece com a importante insignificância da referência à hora a que acorda o avô e o vizinho (o Dr. Sebastião), que se cruzam todos os dias ao sair e, às vezes, ao regressar a casa. O avô do narrador «agora tem bastante tempo» ao passo que o Dr. Sebastião, não sendo relojoeiro, está sempre a ver as horas e «nunca tem tempo a perder». O avô, porque tem tempo, nunca se lembra de ler as notícias, tem aulas de alemão e aulas de Pilates, faz vários piqueniques durante a semana, cultiva o jardim, escreve ridículas cartas de amor durante horas a fio, ao serão discute pintura e lê peças de teatro, vai frequentemente a Paris, bebe chá todos os dias com uma amiga, cozinha, ajuda os cães a atravessar a rua «e ainda tem tempo para ir buscar-me à escola», confessa o narrador. Parece que o avô tem todo este tempo e faz todas estas coisas porque está reformado. Todavia, o texto e a ilustração finais fazem-me suspeitar de que o avô tem tempo e faz o que faz porque é avô: «O tempo voa quando estou com o meu avô». Bem merecido, o Prémio internacional de ilustração, atribuído pela Feira do Livro Infantil de Bolonha.